A devastação de Alepo é a nossa vergonha diária. Não podemos dizer que não sabemos, mesmo sabendo pouco (nós, os que até lemos os jornais de referência, europeus e americanos, seguimos a BBC e a Al Jazeera, conversamos com amigos ‘bem colocados’ nos corredores da diplomacia), porque cada fonte tem a sua verdade, mas, seja ela qual for, Alepo é um ferrete. Isto dito, faz-me confusão ler que as tropas de Bashar Al-Assad executaram, anteontem, milhares de civis. O meu problema é de ordem semântica. Executar não é o mesmo que provocar milhares de mortos durante uma intervenção militar. Quando bombardearam Londres, os alemães não ‘executaram’ ninguém. O Blitz, sobretudo o de Setembro de 1940, provocou milhares de mortos, mas isso não foi uma execução. Foi um acto de guerra. Nada disto desculpa Assad, Putin, Khamenei, Erdoğan, Obama, Hollande e pessoal menor. Convinha usar as palavras exactas. O horror não é transferível por efeito de propaganda. Ou nos explicam em que circunstâncias se verificaram as ‘execuções’ ou estamos no domínio do agitprop que nada resolve. As dezenas de milhares de mortos de Alepo não precisam de álibi diplomático-jornalístico.