sábado, 6 de março de 2021

LÍDIA NO CONSELHO DE ESTADO


Uma boa notícia: Lídia Jorge será Conselheira de Estado no segundo mandato de Marcelo. Escritora consagrada, Lídia Jorge também é uma mulher esclarecida, culta e de espírito livre, acrescentando uma voz de Esquerda ao principal órgão de consulta do Presidente da República.

Foto: Eduardo Pitta, 2020. Clique.

CEM ANOS


Num país em que a memória dura, quando dura, 48 horas, os cem anos do PCP não podem ser ignorados. Praticamente tudo me afasta das práticas do Partido, mas também bocejo com Proust e ele não deixa de ser quem é por causa das minhas idiossincrasias.

Fundado a 6 de Março de 1921, antes portanto da existência formal da URSS, o Partido Comunista Português foi a mais importante força de oposição ao Estado Novo.

Ao contrário dos partidos maoistas ou aparentados, surgidos nos anos 1960, cujos activistas mais destacados desaguaram quase todos no PPD/PSD e na Goldman Sachs, o PCP tem conseguido manter uma assinalável coerência.

Gostava de ler uma História do PCP feita com rigor científico, sem preconceito de qualquer índole, e tenho pena que o centenário não tenha sido pretexto bastante (não será por falta de historiadores, porque, a avaliar pela imprensa, são às centenas). Há muitos esqueletos no armário, o mais embaraçoso dos quais Júlio Fogaça, o líder homossexual que esteve dezoito anos na prisão, alguns deles no Tarrafal. Expulso do Partido em Janeiro de 1960, Fogaça foi rasurado da narrativa oficial. 

Verdade que existe a excelente biografia de Cunhal feita por Pacheco Pereira, mas os quatro volumes publicados (entre 1999 e 2015) vão só até Setembro de 1968, ou seja, até à queda de Salazar. Tendo Cunhal falecido em 2005, continua por contar — com a minúcia e suporte documental que caracterizam os volumes disponíveis — a história do Partido durante o marcelismo e nos primeiros 30 anos de democracia.

Isto dito, cem anos são cem anos. Não vale a pena assobiar para o lado.

Imagem: detalhe de um folheto do Avante. Clique.

sexta-feira, 5 de março de 2021

BELÉM NO FEMININO

A partir da próxima terça-feira, dia 9, data da posse do Presidente da República, os serviços da Presidência da República passam a contar com onze mulheres, nove das quais estreantes da West Wing de Belém.

Na Casa Civil serão: Amélia Paiva, embaixadora, para chefiar a assessoria diplomática; Djaimilia Pereira de Almeida, escritora afro-portuguesa, na Integração e Inclusão Social; Maria José Policarpo, empresária, na área das Empresas e Concertação Social; Isabel Aldir, médica infecciologista e antiga responsável pelo plano de rastreio e prevenção do HIV, na Saúde; Zita Martins, astrobióloga, na Ciência; Isabel Alçada, professora e autora de literatura para a infância, na Educação; Maria João Ruela, jornalista, nos Assuntos Sociais; Patrícia Fonseca, ex-deputada do CDS; Rita Saias, presidente do Conselho Nacional de Juventude; e Inês Domingos, ex-deputada do PSD.

Para a Casa Militar entra Patrícia Pereira, afro-portuguesa, major da GNR, responsável pela Segurança do PR.

Isabel Alçada e Maria João Ruela transitam do mandato em curso.

quinta-feira, 4 de março de 2021

PARA O LEITOR RELUTANTE


Acaba de sair mais um livro vermelho da Guerra & Paz, desta vez um cânone para o leitor relutante.

Falo de Vamos Ler!, de Eugénio Lisboa, suma de cinquenta obras de 35 autores portugueses, um deles ainda vivo. Destinado a leitores relutantes, ou seja, a leitores não-adictos, exclui autores que, «embora grandes ou notáveis, não se adequam ao [imperativo de] atrair leitores. Isso explica as ausências de, entre outros, Aquilino, Nemésio, Cesariny e Herberto.

Eugénio Lisboa faz a defesa das obras escolhidas, esclarecendo o critério de escolha. Sínteses biográficas de cada autor ajudam o leitor relutante a contextualizar a obra.

Há remoques contra a crítica highbrow e certos tiques do Meio.

Vamos ler!

Clique na imagem.

quarta-feira, 3 de março de 2021

CTT & LISBOA


Sempre que tiver razões de queixa dos CTT, lembre-se que Carlos Moedas foi um dos principais artífices da privatização da empresa.

Se vive no concelho de Lisboa, não se esqueça disso quando for votar para a Câmara Municipal nas próximas eleições autárquicas.

Um dos melhores serviços europeus de correios enquanto prestaram serviço público, os CTT conseguem a proeza de ser, em 2021, piores do que eram nos anos 1950. Motivo: a privatização efectuada entre Dezembro de 2013 (apenas 70%) e Setembro de 2014 (os restantes 30%). Uma herança dos anos de chumbo.

Carlos Moedas não precisou de ser ministro para ser o elemento-chave do Governo PSD/CDS. Oriundo da Goldman Sachs e do Deutsche Bank, ocupou o cargo de secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, sendo o interlocutor privilegiado da troika. 

Comissário Europeu para a Investigação, Inovação e Ciência (2014-19), actual administrador da Fundação Calouste de Gulbenkian, Moedas foi o coelho que Rui Rio tirou da cartola para fazer frente a Medina, mas o mais próximo que se lhe conhece sobre a gestão da cidade tem a ver com a direcção da Aguirre Newman Cosmopolita, uma imobiliária do segmento de luxo.

Não há escolhas inocentes.

Na imagem, Carlos Moedas e a mulher, Céline Abecassis-Moedas, directora de Formação de Executivos da Católica Lisbon SBE, ex-administradora dos CTT privados. Clique.

MARIA JOSÉ VALÉRIO 1933-2021


Vítima de Covid-19, morreu hoje a cantora Maria José Valério, a Menina dos Telefones e de Olha o Polícia Sinaleiro, dois dos maiores êxitos de vendas da canção popular portuguesa.

Estreada na Emissora Nacional em 1952, intérprete da Marcha do Sporting, também fez  teatro de revista, cinema e televisão.

Em 1962, o seu casamento com o toureiro José Trincheira foi celebrado por Manuel Gonçalves Cerejeira, então cardeal-Patriarca de Lisboa, e transmitido em directo, a partir do Mosteiro dos Jerónimos, pela RTP. O matrimónio foi abençoado pelo Papa João XXIII.

Nos anos 1970, uma longa tournée levou-a a França, ao Canadá, Brasil (onde permaneceu quase um ano), África do Sul, Moçambique, Angola e Espanha.

Faria 88 anos no próximo mês de Maio.

Na imagem, Maria José Valério em 1972. Clique.

terça-feira, 2 de março de 2021

UM ANO


Faz hoje um ano que foi registado em Portugal o primeiro caso de Covid-19.

Os números da imagem são de ontem. Provam que estamos quase na previsão feita por Graça Freitas ao Expresso, em entrevista publicada a 29 de Fevereiro do ano passado, admitindo que 10% da população portuguesa seria infectada. Infelizmente, a própria directora-geral da Saúde não escapou ao vírus, do qual recuperou.

Entretanto, muita água passou sob as pontes.

Imagem: Worldometer. Clique.

segunda-feira, 1 de março de 2021

AXIMAGE


Sondagem da Aximage para a TSF, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, divulgada hoje.

Parece confirmar-se a volatilização do CDS.

Clique no gráfico da TSF.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

SENA


UM POEMA POR SEMANA — Para hoje escolhi Camões Dirige-se Aos Seus Contemporâneos, de Jorge de Sena (1919-1978), nome maior do século XX português. O poema foi escrito no Brasil, país onde Sena viveu entre 1959 e 1965 e lhe nasceram dois dos nove filhos.

Poeta, romancista, contista, dramaturgo, ensaísta, crítico, historiador da Literatura, especialista em Camões e Pessoa, tradutor de Kavafis, Dickinson e outros, organizador de antologias, professor de literatura, intelectual público, Sena nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919, falecendo em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Tinha 58 anos.

Antes de ingressar na Escola Naval, foi aluno de Rómulo de Carvalho (o poeta António Gedeão) no Liceu Camões, de Lisboa. Após uma viagem no navio-escola Sagres, entre Outubro de 1937 e Fevereiro de 1938, foi expulso da Marinha de Guerra. Sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os primeiros textos em Março de 1939. O primeiro livro, Perseguição, saiu em 1942. Concluiu o curso de engenharia civil em Novembro de 1944.

Depois do serviço militar, ingressou no ministério das Obras Públicas e fez um estágio de engenharia em Inglaterra. Em 1949 casou com Maria Mécia de Freitas Lopes, irmã de Óscar Lopes.

Em 1955, a PIDE apreendeu As Evidências, rotulando o livro de subversivo e pornográfico. Em Março de 1959 envolveu-se no frustrado Golpe da Sé e, em Agosto, partiu com a família para o Brasil. Começou a dar aulas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (São Paulo), tendo, à margem da docência, sido director literário da Editora Agir, do Rio de Janeiro. Em paralelo, fez conferências, participou de congressos, colaborou largamente na imprensa e com os círculos anti-salazaristas no exílio.

Em 1960 publicou a primeira colectânea de contos, Andanças do Demónio. Tornou-se cidadão brasileiro em Março de 1963. Doutorou-se em 1964 com uma tese sobre Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular. Em consequência da ditadura militar brasileira, instaurada em 31 de Março de 1964, foi demitido do ensino. Em Outubro de 1965, mudou-se com a mulher e os filhos para os Estados Unidos. Contratado pela Universidade do Wisconsin-Madison, transferiu-se mais tarde (1970) para a Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Era professor catedrático efectivo de Literatura Portuguesa e Brasileira desde 1967. Sucedem-se as viagens à Europa, onde participa em colóquios e congressos internacionais.

A 22 de Dezembro de 1968 tentou entrar em Portugal, mas foi detido pela PIDE na fronteira de Valencia de Alcántara. No mesmo dia, José Blanc de Portugal intercede junto de Marcello Caetano e, ao fim de poucas horas, concedem-lhe visto de entrada. Fica dois meses em Lisboa. Em Julho de 1972 visita Moçambique, proferindo três conferências em Lourenço Marques.

Antes de morrer publica três livros memoráveis: Conheço o Sal... e Outros Poemas (1974) e Sobre Esta Praia... Oito Meditações À Beira do Pacífico (1977), ambos de poesia, e os contos de Os Grão Capitães (1976). Em 1977 recebeu o prémio internacional de poesia Etna-Taormina e, a convite de Eanes, discursou na Guarda no 10 de Junho.

Da vasta bibliografia — cerca de cem títulos em todos os géneros, incluindo volumes de correspondência — faz parte o romance póstumo Sinais de Fogo, publicado em 1979.

A universidade portuguesa nunca foi capaz de lhe oferecer um lugar. Vindos da Califórnia, os seus restos mortais foram transladados para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, em Setembro de 2009. O centenário do seu nascimento foi assinalado em 2019 de forma parcimoniosa.

Escrito em 1961, o poema desta semana pertence ao livro Metamorfoses (1963). A imagem foi obtida a partir da 1.ª edição da obra, publicada pelo Círculo de Poesia da Livraria Morais Editora, de Lisboa.

[Antes deste, foram publicados poemas de Rui Knopfli, Luiza Neto Jorge, Mário Cesariny e Natália Correia.]

O ESTADO DA NAÇÃO

Sondagem da Aximage para a TSF, o DN e o JN, divulgada hoje.

Apreciação positiva para o PR (68%), o PM (56%) e o Governo (50%). Do lado da Oposição, o BE despenca. O CDS desaparece.

Imagens: TSF. Clique.