segunda-feira, 9 de novembro de 2020

CRUZEIRO SEIXAS 1920-2020


A menos de um mês de completar cem anos, morreu ontem, no Hospital de Santa Maria, o pintor e poeta Artur do Cruzeiro Seixas, fundador e figura destacada do Surrealismo português.

Depois de frequentar a Escola António Arroio (1935-41), fez parte das tertúlias do Café Hermínius e do Grupo Surrealista de Lisboa, expondo pela primeira vez em 1949.

Alistado na Marinha Mercante, fixou-se em Angola em 1951, ali vivendo durante catorze anos. Sem abandonar as artes plásticas, foi naquela antiga Colónia que começou a escrever poesia, estando publicados os três volumes da Obra Poética organizados por Isabel Meyrelles (um quarto volume encontra-se em preparação). Em 1967 torna-se bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, viaja por todo o mundo, dirige várias galerias de arte, expõe em Espanha, no Brasil, na Alemanha, na Inglaterra, na Bélgica, no Chile, nos Estados Unidos e no México, desenha cenários para o Ballet Gulbenkian e para a Companhia Nacional de Bailado e, em 1975, corta relações com Cesariny, o amigo dilecto. A correspondência de ambos (1941-75) foi publicada em 2016 pela editora Sistema Solar.

Ilustrou livros de diversos autores, entre eles a Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica que Natália Correia organizou e publicou em 1966.

Cruzeiro Seixas está representado em colecções públicas e privadas. Entre outras, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de Arte Contemporânea (Chiado), na Biblioteca Nacional de Portugal, no  Museu Machado de Castro (Coimbra), na Biblioteca de Tomar e, naturalmente, no Museu do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, instituição a que doou toda a sua colecção em 1999.

Radicado no Algarve desde o início dos anos 1980, homossexual assumido, foram realizados sobre a sua vida e obra três filmes: N.O.M.A. Cruzeiro Seixas (2006) de Carlos Cabral Nunes; Cruzeiro Seixas. O Vício da Liberdade (2010) de Alberto Serra e Ricardo Espírito Santo; e As Cartas do Rei Artur (2016) de Cláudia Rita Oliveira.

A ministra da Cultura atribuiu-lhe no mês passado a Medalha de Mérito Cultural.

O corpo estará no Teatro Thalia, em Lisboa, amanhã (10-15h), seguindo depois para o Cemitério dos Prazeres.

Clique na imagem.