quinta-feira, 2 de maio de 2019

POESIA MALDITA


Voltou às livrarias, desta vez numa edição extremamente cuidada da editora Ponto de Fuga, a famosa Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica organizada por Natália Correia em 1965. O volume inclui as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas.

São 94 autores, nascidos entre 1230 e 1938, sendo mulheres apenas quatro. Vivos à data de publicação eram 23. Natália organizou, seleccionou os autores, anotou e prefaciou a obra, que a ditadura apreendeu e proibiu.

O processo-crime por abuso de liberdade de imprensa ocupou o Tribunal Plenário durante sete anos e cinco meses (1966-73). Curiosamente, dos 23 autores vivos em 1966, apenas cinco foram julgados e condenados: Natália, Cesariny, Ary dos Santos, Melo e Castro e Luiz Pacheco. Fernando Ribeiro de Mello, editor da Afrodite, editora responsável pela publicação, também se sentou no banco dos réus. O mesmo aconteceu a Geraldo Soares, pela cedência de alegados inéditos de António Botto (mas o jornalista morreu no decurso do processo), e Francisco Marques Esteves, por ter feito o mesmo com inéditos de Carlos Queiroz.

Vladimiro Nunes, editor da Ponto de Fuga, e Francisco Topa, docente da Universidade do Porto, assinam longos textos introdutórios, intercalados de iconografia atinente, tais como fac-símiles de requerimentos, autos, despachos e correspondência. Ambos fazem o levantamento exaustivo das circunstâncias que rodearam a edição da antologia e peripécias judiciais subsequentes: acidentes processuais, testemunhas, advogados, etc. Uma edição histórica.

Clique nas imagens da capa e do fac-símile do auto de destruição.