sábado, 1 de setembro de 2018

LULA EMBARGADO


Por seis votos contra um, o Tribunal Superior Eleitoral não aceita o registo da candidatura presidencial de Lula. Argumento: o antigo Presidente «está enquadrado na Lei da Ficha Limpa». Ficam só os da Ficha Suja.

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VANDALISMO


Isto admite-se? Clique nas imagens.

DESCONTINUADO?


Este sinal na esquina da Rua José Carlos dos Santos com a Avenida da República foi descontinuado pela Câmara Municipal de Lisboa?

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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

LISBOA VANDALIZADA


A criatura está identificada. Até dá entrevistas ao jornal Corvo. Então e a Câmara de Lisboa assobia para o lado? A administração do Metro não limpa os placards? A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária mantém os sinais de trânsito vandalizados? Estão todos com medo de fazer uso da autoridade? Isto vai durar até quando? Até começar a aparecer Geco gravado nas viaturas oficiais? Talvez fosse boa ideia. Acordavam de vez.

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LACERDA & MENDELSOHN


Hoje na Sábado escrevo sobre Labareda, antologia da obra poética de Alberto de Lacerda (1928-2007). A distância rasura. Foi o que aconteceu com Lacerda, ausente de Portugal desde 1951. Lisboa foi um intervalo fugaz entre Lourenço Marques e Londres. O périplo americano e as peculiares idiossincrasias do autor acentuaram a fractura com os media e a universidade portuguesa. Injustiça óbvia, porque falamos de um grande poeta. No ano em que Lacerda faria 90 anos, Luís Amorim de Sousa organizou esta antologia a que chamou Labareda. O volume inclui poemas seleccionados dos onze livros publicados em vida do autor, um dos quais, Sonetos, sem distribuição comercial. Este núcleo inclui os dois tomos de Oferenda (1984 e 1994) que, por sua vez, coligem cinco livros até então inéditos. Acolhe ainda 28 poemas inéditos que o antologiador foi buscar ao espólio. Mas antes surgem outros quatro, extraídos de dois títulos omissos da bibliografia: O Pajem Formidável dos Indícios, datado de 2010, e A Luz Que Se Escondeu no Escuro, de 2016. Publicados onde? As datas reportam a quê? Sobre eles, a cronologia de Luís Amorim de Sousa faz silêncio. Mesmo que façam parte de livros organizados em vida do autor, seria mais correcto tê-los incluído na secção de inéditos. Quem conhece a obra publicada é por ali que começa. É estranho que, num acervo tão vasto («deixou inéditos para cima de mil poemas», lê-se no prefácio), Luís Amorim de Sousa tenha escolhido os 28 poemas que escolheu. Foi o melhor que encontrou? Não teria sido preferível ater-se à obra publicada? Um dos mais importantes livros de Lacerda, Mecânica Celeste, está representado com 14 poemas. Todos sabemos que antologiar significa seleccionar, mas Luís Amorim de Sousa conseguiu a proeza de deixar de fora os poemas mais significativos de Mecânica Celeste. O leitor desta antologia não tem oportunidade de ler Depois de veres Guerra e Paz de Sergei Bondarchuk, Vem, Vimos, Vietnam, Os pés nus correspondem em grinalda e outros. Porquê? Porque os versos falam de merda, caralhos, cus, conas, orgasmos, putas relaxadas, escarros e, last but not least, do Império britânico cagando...? Porquê insistir no transcendental? Duas estrelas. Publicou a Tinta da China.

Escrevo ainda sobre Uma Odisseia, do norte-americano Daniel Mendelsohn (n. 1960). Escrever para o grande público sobre literatura grega e romana não está ao alcance de todos. Como demonstra este livro, Mendelsohn é dos melhores. Professor de Humanidades no exclusivo Bard College de Annandale-on-Hudson, Mendelsohn descreve um seminário académico sobre a Odisseia onde teve a surpresa de encontrar o pai, professor de matemática, então com 81 anos. Isso explica o subtítulo: Um pai, um filho, uma epopeia. A partir dessa experiência de 2011, Mendelsohn escreveu este curioso livro de memórias que é, ao mesmo tempo, uma close reading do poema de Homero. Não se trata de ensaio: são memórias com nomes alterados e detalhes modificados. O autor socorre-se de todos os recursos narrativos de forma a que o leitor não sinta o peso da erudição. Para sinalizar o plot, cita Aristóteles na breve nota que serve de proémio. Depois do seminário, que dura 16 semanas, Mendelsohn e alunos (o pai incluído) partem num cruzeiro pelo Mediterrâneo. A exegese do poema de Homero suscita questões identitárias que o autor desenvolve com elegância. Cinco estrelas. Publicou a Elsinore.

domingo, 26 de agosto de 2018

CATORZE VEZES


Cristina Margato assina no Expresso um extenso artigo sobre os candidatos portugueses ao Nobel da Literatura. Vale a pena ler. A jornalista consultou os arquivos da Academia Sueca disponíveis na Internet (neste momento até 1968; a partir do próximo Janeiro disponíveis até 1969, e assim sucessivamente) e descobriu coisas deveras interessantes. Também falou com algumas pessoas: Clara Rocha (a filha de Torga), António Valdemar, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta, etc. O foco do artigo é a guerrilha que, em 1959 e 1960, dividiu a intelligentsia portuguesa em dois grupos: os que apoiavam Torga contra os que apoiavam Aquilino. Do lado de Torga estavam Sophia Andresen e um punhado de escritores que depois do 25 de Abril se identificariam com o PS (casos de O’Neill, David e outros). Do lado de Aquilino estavam Óscar Lopes e outros intelectuais que já nessa altura eram militantes do PCP, casos de Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite Carvalho e Abel Manta. Mário Soares, José Cardoso Pires e Vergílio Ferreira também apoiaram Aquilino. Pano de fundo: a PIDE apreendeu durante cinco dias o oitavo volume do Diário de Torga; Aquilino foi levado a Tribunal Plenário por ter escrito Quando os Lobos Uivam (1958). A querela fixou dissensões e ódios para a vida.

Escreve Cristina Margato: «A parte mais estranha desta história é que nem Torga nem Aquilino aparecem na lista da Academia Sueca como escritores propostos ao Prémio Nobel da Literatura, durante o ano de 1960

Ando há anos a bater na mesma tecla: as candidaturas ao Nobel têm protocolo próprio, não se fazem nas páginas dos jornais. O caso Torga vs Aquilino é paradigmático

Revelação verdadeiramente espantosa é esta: Maria Magdalena Valdez Trigueiros de Martel Patrício (1883-1947), que assinava Maria Magdalena Martel Patrício — o jornal inverte os apelidos —, escritora portuguesa, foi catorze vezes candidata ao Nobel da Literatura, a última das quais em 1947. Não se tratou de campanha de imprensa: o seu nome consta dos arquivos da Academia Sueca.

Conhece a autora? Então é assim: de origem aristocrática, Maria Magdalena Martel Patrício publicou, entre 1915 e 1944, cerca de trinta livros de poesia, ficção e ensaio. E em 1922 colaborou no primeiro número da Contemporânea (clique nas imagens). Hoje ninguém sabe quem foi a única mulher portuguesa nomeada para o Nobel da Literatura. E nomeada catorze vezes! À atenção das nossas estudiosas de literatura no feminino.

Tudo isto diz muito da relatividade da fama.

Imagens obtidas a partir do meu exemplar da Contemporânea.