sexta-feira, 23 de março de 2018

OS DIAS DO FIM


Pablo Llarena, juiz do Tribunal Supremo de Espanha, decretou a prisão imediata, sem direito a fiança, de Carme Forcadell, Jordi Turull, Raül Romeva, Dolors Bassa e Josep Rull. Estão todos acusados de rebelião. Turull, Romeva, Bassa e Rull também estão acusados de desvio de fundos públicos (o financiamento do referendo e actos em prol da independência).

Turull foi o homem que ontem falhou a eleição para presidente da Generalitat, depois das tentativas falhadas de eleger Puigdemont, Junqueras e Sànchez.

Lembrar que Carme Forcadell, antiga presidente do Parlamento catalão, esteve presa umas horas, no dia 9 de Novembro de 2017, mas saiu em liberdade após pagar fiança. Anteontem renunciou ao mandato de deputada. Hoje foi presa de forma incondicional.

TERROR


A França de novo mergulhada no terror. Em nome do Daesh, um homem mantém reféns num supermercado de Trèbes (Carcassone). Até ao momento, dois mortos.

Clique na imagem do Libèration.

CATALUNHA


O Tribunal Supremo de Espanha formalizou hoje a acusação contra 25 independentistas catalães. Na imagem estão os 13 mais influentes.

Acusados de rebelião e desvio de fundos públicos: Carles Puigdemont, Oriol Junqueras, Joaquim Forn, Jordi Turull, Raül Romeva, Clara Ponsatí, Josep Rull, Antoni Comin e Dolors Bassa.

Acusados apenas de rebelião: Carme Forcadell, Marta Rovira, Jordi Sànchez e Jordi Cuixart.

Acusados de desobediência e desvio de fundos públicos: Meritxell Borràs, Lluis Puig, Carles Mundó, Santi Vila e Meritxell Serret.

Acusados apenas de desobediência: Llus Maria Corominas, Lluis Guinó, Anna Simó, Ramona Barrufet, Joan Josep Nuet, Mireia Boya e Anna Gabriel.

Jordi Turull, que ontem não conseguiu ser eleito presidente da Generalitat, e está neste momento a ser ouvido pelo juiz, deve ficar preso.

Entretanto, Marta Rovira, secretária-geral da ERC, fugiu para parte incerta.

Clique na imagem do jornal catalão La Vanguardia.

TRAPAÇAS

Já toda a gente percebeu que os fogos de Junho e Outubro do ano passado têm sido utilizados como arma de arremesso político. A Comissão Técnica Independente incumbida pela Assembleia da República de analisar os incêndios de 2017, produziu dois relatórios. O primeiro, sobre Pedrógão Grande, não suscitou controvérsia: o Governo adoptou as medidas propostas. O segundo, sobre a catástrofe de 15 de Outubro, foi divulgado anteontem. Contém informação alegadamente falsa veiculada por Albino Tavares, tenente-coronel, antigo membro da Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Face à reacção imediata do deputado Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna que saiu do Governo em Outubro, o presidente da Comissão Técnica Independente, João Guerreiro, afirmou ontem:

«No meio de um trabalho de doze pessoas, [a CTI é formada por doze peritos] poderá haver qualquer coisa que não esteja totalmente clara. Percebo as questões colocadas pelo dr. Jorge Gomes, portanto tem todo o sentido que estas questões sejam cabalmente esclarecidas, tem todo o sentido que a Comissão Técnica Independente, neste domínio, analise um bocadinho, com maior profundidade, esta troca de documentos. Tudo o que sejam questões que possam não estar bem esclarecidas no relatório, acho que temos o dever de clarificar isso rapidamente para não complicar a discussão sobre os reais problemas que estão presentes, porque esses é que interessam

Analise um bocadinho, com maior profundidade...? Um bocadinho?

O que é extraordinário é que só agora, depois de elaborado o segundo relatório, a CTI tenha ‘descoberto’ que não analisou em profundidade, nem fez o contraditório.

quinta-feira, 22 de março de 2018

ARAMBURU & TORRES


Hoje na Sábado escrevo sobre Pátria, do espanhol Fernando Aramburu (n. 1959). Com apenas dois livros traduzidos entre nós, o autor regressa com este romance várias vezes premiado, com enfoque no período mais turbulento do independentismo basco. A trama gira em torno das sequelas da execução de um empresário de nome Txato. Estamos no auge da vaga de assassinatos perpetrados pela esquerda abertzale. Dito de outro modo, no centro do terror euskadi, tema recorrente na obra de Aramburu. A partir de uma vila imaginária da província basca de Guipúzcoa, acompanhamos as reacções das vítimas do independentismo. Em 2011, quando a ETA pôs fim à luta armada, Bittori, a mulher de Txato, vai à campa do marido falar com ele. Inibida de esquecer, vê-se obrigada (como outros sobreviventes) a coexistir com os algozes. É tarde quando Jose Mari lhe confessa o crime. Não está sozinha. Como ela, outras viúvas, pais, filhos, irmãos, amantes, amigos. Vidas destruídas pela intolerância de uma quadrilha de ‘iluminados’. Pátria é um fresco de três décadas de ódio e trapaças. Aramburu não ficou pelo panfleto, antes compôs uma epopeia onde se cruzam vozes e tensões, nada tem carácter definitivo, e as certezas são poucas. Num estilo sóbrio, a escrita mantém o ritmo adequado à narrativa. Sem ênfase, ou frases de grande efeito, o romance vai fundo no escalpe da realidade. A densidade psicológica das personagens resgata-o da tentação do proselitismo. O facto de viver em Hanôver, na Alemanha, e só ter começado a publicar (excepto os dois primeiros livros de poesia) depois de sair de Espanha, fez de Aramburu um outsider. Isso talvez explique a desatenção dos editores portugueses face a um obra que vai já em oito romances, quatro colectâneas de contos, cinco livros de poesia, quatro de narrativa infantil e um volume de ensaios que, a partir da exegese de terceiros, pode ler-se como autobiografia do autor. Logo ele, que alguma crítica tem comparado a Camus. O volume inclui glossário de termos euskera, que são muitos, causando, aqui e ali, empecilho de leitura. Em nota de rodapé seriam provavelmente mais eficazes. Cinco estrelas. Publicou a Dom Quixote.

Escrevo ainda sobre A Glória e seu Cortejo de Horrores, da brasileira Fernanda Torres (n. 1965). Actriz e colunista na imprensa, a autora publicou mais um livro de ficção. Trata-se de uma farsa sobre o milieu teatral, com envios retrospectivos à militância de esquerda, ao Cinema Novo, ao «hedonismo lascivo, ébrio, estonteante» provocado pela amnistia de 1979 (era a ditadura militar), mas, sobretudo, ao tempo em que a televisão era o epicentro do Brasil. Mario Cardoso, o protagonista, é um actor de meia-idade, outrora um ídolo de novelas, que, na pior fase da sua vida, decide fazer Shakespeare. Pornochanchada e guerrilha cruzam-se com a degradação do Rio de Janeiro: «No emaranhado de barracos sem água e esgoto […] as AK 47s proliferam, traficadas junto com os papelotes de pó.» Por vezes, o humor tem eficácia, como na cena do filme porno: «Corria nua por uma praia deserta, rolando sôfrega na areia, como um bife à milanesa acometido de depressão.» Como se fora um roman à clef, a narrativa está pontuada de indirectas sobre actores, encenadores e críticos de teatro, ou seja, matéria obscura para quem não conheça o teatro brasileiro. Duas estrelas. Publicado pela Companhia das Letras.

quarta-feira, 21 de março de 2018

DIA DA POESIA

Hoje é Dia da Poesia. Deixo aqui um poema de Guerra Junqueiro (1850-1923) impróprio para almas sensíveis. Junqueiro inspirou-se no escândalo que em 1881 envolveu o 2.º marquês de Valada, D. José de Meneses da Silveira e Castro, conselheiro e amigo do rei, par do Reino, oficial-mor da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo e governador civil (substituto) de Lisboa. A polícia encontrou o marquês na cama com um soldado de infantaria, em pleno intercourse, numa casa da Travessa da Espera, no Bairro Alto. As dimensões do membro do soldado foram motivo de conversa em toda a cidade. O marquês andava a ser seguido pela polícia, interessada em derrubar o Governo progressista, como de facto aconteceu. Ontem como hoje, estas coisas não acontecem por acaso.

A TORRE DE BABEL OU A PORRA DO SORIANO

Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
Para o cantar inteiro e o cantar bem
precisava viver como Matusalém.
Dez séculos!
Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem os colhões de que dão ideia vaga
as nádegas brutais do Arcebispo de Braga.

Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
Mastro de Leviathan! Eminência revel!
Estando murcho foi a Torre de Babel
Caralho singular! É contemplá-lo
É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
O sete estrelo!!

Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra!
É uma porra, arquiporra!
É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder, da Terra, Eva no Paraíso!!

É uma porra infinita, é um caralho insone
que nas roscas outrora estrangulou Le Comte.

Oh, caralho imortal! Oh glória destes lusos!
Tu podias suprir todos os parafusos
que espremem com vigor os cachos do Alto Douro!
Onde há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
O Marquês de Valada em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
– Nada, nada contém a porra do Soriano!!

Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás duma crica infinita??
– Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe há-de abrir talvez um dia um terramoto
para que desagúe, esta porra medonha,
em grossos borbotões de clerical langonha!!!

A porra do Soriano é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto?
Onde é que começa?
Onde é que termina
essa porra, que estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento
porque é porra de pardal e porra de jumento??
Porra!
Mil vezes porra!
Porra de bruto
que é capaz de foder Deus no universo e o Cosmos num minuto!!!

DIA DA ÁRVORE


Hoje é Dia da Árvore e Lisboa conta com mais um espaço verde, o Parque Urbano do Vale da Montanha, situado nas traseiras da Avenida Gago Coutinho, estabelecendo um continuum com a Avenida Marechal António de Spínola, o Parque da Bela Vista Sul e a Linha de Cintura Interna junto ao Areeiro. Onze hectares para fruir a natureza, lá onde havia hortas e construções ilegais.

E a partir do meio-dia já pode ir namorar para o Jardim de Santos, que reabre hoje.

A foto é de O Corvo. Clique.