sábado, 15 de abril de 2017

FRANÇA


A mais recente sondagem do Monde. E não é que Mélenchon, 65 anos, eurodeputado, esquerda dura, anti-UE, chegou aos 20% das intenções de voto? Tecnicamente empatado com Macron, Le Pen e Fillon, tudo pode acontecer. Clique na imagem para ler melhor.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

ORDEM PARA ABATER

Para estabelecer a ordem pública na Chechénia, Putin escolheu Ramzan Kadyrov para presidente. Kadyrov, 40 anos, muçulmano sunita, praticante de wrestling, ex-rebelde separatista, chefe de um exército privado denominado Kadyrovtsy, é filho do antigo presidente Akhmad Kadyrov (1951-2004). Em troca de segurança militar, Putin deu carta branca a Kadyrov para impor um regime totalitário. A criatura está em funções desde Abril de 2007, com aval de Moscovo desde Março de 2011. Em Dezembro de 2015 tornou-se membro da Comissão Consultiva do Conselho de Estado da Federação Russa.

Nos últimos dias, a partir de notícias do jornal russo Novaya Gazeta, a imprensa internacional tem feito eco da existência, na Chechénia, de campos de detenção, tortura e abate de homossexuais. Numa sociedade extremamente conservadora e homofóbica como a chechena, a maioria dos homossexuais casa com mulheres (mantendo vida dupla) para evitar retaliação das próprias famílias. Leia-se: para evitarem ser executados pela própria família, como é aconselhado pelas autoridades e tem acontecido. Mas uns quantos saem de casa para viver a sua vida. São esses que têm sentido a mão pesada dos esbirros de Kadyrov. Os que conseguem sair da Chechénia dão conta do horror generalizado. Activistas dos direitos humanos estão a monitorizar a fuga de dúzias de homossexuais que, tendo saído da Chechénia, ainda se encontram na Rússia, pois a possibilidade de serem repatriados para Grózni é real.

Boris Johnson, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, escreveu no Twitter que a situação na Chechénia é «ultrajante». O Reino Unido já manifestou disponibilidade para acolher esses homens. Curiosamente, as notícias não referem lésbicas. Sobre tudo isto, o que dizem as Nações Unidas? E Mr Guterres, católico, em particular?

quinta-feira, 13 de abril de 2017

A MÃE DE TODAS AS BOMBAS


A partir de um avião MC-130, a Força Aérea dos Estados Unidos lançou hoje sobre Khorosan, no Afeganistão, uma bomba GBU-43, vulgo MOAB, ou Massive Ordnance Air Blast. Esta ‘Mãe de Todas as Bombas’ tem um índice explosivo superior a onze toneladas de TNT. Foi a primeira vez que foi usada em combate. Khorosan é o epicentro de uma zona de cavernas utilizadas como esconderijos pelo Daesh. Projectada para destruir alvos subterrâneos, a bomba GBU-43 detona antes de atingir o solo e, além do seu poder destruidor, tem enorme impacto psicológico. O general John W. Nicholson, comandante das forças americanas no Afeganistão, disse que o GBU-43, a bomba não-nuclear mais potente, era a munição certa para combater o Daesh.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

BILL BRYSON


Hoje na Sábado escrevo sobre Regresso à Pequena Ilha, de Bill Bryson (n. 1951). Na melhor tradição anglo-americana, Bryson é o autor de livros de viagens por excelência. Mas também escreveu uma biografia de Shakespeare, ensaios sobre a língua inglesa, ciência, História, e um volume de memórias. Americano de nascença, transferiu-se para Inglaterra em 1973, e por lá ficou, primeiro a trabalhar num hospital psiquiátrico, depois como colunista e escritor. Houve um breve intervalo no Iowa natal, mas foi em Inglaterra que casou e nasceram os filhos, tendo obtido a cidadania britânica em Outubro de 2014. Com doze livros publicados em Portugal, tornou-se um autor de culto. Refere o Brexit nestes termos: «A muitos de nós, o voto inglês pareceu uma espécie de loucura.» Como o título induz, Regresso à Pequena Ilha é uma sequela de Crónicas de uma Pequena Ilha, várias vezes trazido à colação, embora o título original, The Road to Little Dribbling, não seja tão óbvio. Em 26 capítulos, Bryson passa em revista o Reino Unido. A displicência é aparente, zurzindo sem dó nas instituições, usos e costumes dos dois lados do Atlântico. Sobre condecorações, o contraponto é hilariante: «Na América o sistema produz a ala de um hospital; na Grã-Bretanha ficamos apenas com um idiota vestido de arminho.» O capítulo dedicado a Londres tem o mérito de ilustrar os estrangeiros: «Nem sequer é uma cidade, mas sim duasWestminster e a City —», concluindo que a inépcia e o cabelo de Boris Johnson (antigo Mayor da cidade) são «um monumento à desordem». Na parte dedicada ao País de Gales temos uma evocação de Dylan Thomas e, coisa rara, elogios francos à estância balnear de Tenby. Muito curiosas as observações sobre centrais nucleares, a partir do acidente de 1957 em Windscale. Evitou-se a catástrofe («os carneiros ficaram incandescentes durante uns tempos»), mas o Lake District permaneceu uma das mais belas paisagens do mundo. Stonehenge tem direito a onze páginas. Etc. O brilho da prosa é equivalente ao grau de corrosão. Mas há uma indisfarçável quota bipolar no binómio EUA vs UK. Remissões inesperadas, como a referência a Frederic Leighton, o pintor mais famoso da Era vitoriana, põem o acento tónico no prazer do texto. Quatro estrelas. Publicou a Bertrand.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA 1925-2017


Morreu hoje Maria Helena da Rocha Pereira, decana dos especialistas portugueses em estudos clássicos. Da sua obra, muito vasta, constam os dois volumes de Estudos de História da Cultura Clássica: o de 1965 dedicado à cultura grega, o de 1984 à cultura romana. Entre outros, traduziu Platão, Sófocles, Eurípides, Píndaro, Anacreonte e Pausânias. Tinha 91 anos.

domingo, 9 de abril de 2017

RAUL BRANDÃO


Não tenho livros de cabeceira por uma razão muito simples: não leio na cama. Mas a expressão tem valor simbólico e, nessa medida, as Memórias de Raul Brandão têm todas as condições para serem livro de cabeceira. Bem andou a Quetzal ao reunir num único tomo (capa dura, 623 páginas) os três volumes de memórias do autor de Húmus.

Brandão, que foi militar entre 1888 e 1911, facto que o não impediu de deixar uma obra literária consistente que inclui historiografia, teatro, ficção, livros de viagens e narrativas diarísticas, escreveu estas memórias enquanto testemunha privilegiada dos últimos anos da monarquia e da implantação da República. Lendo-o, temos uma radiografia nítida de Portugal no período que vai de 1900 a 1930, em especial a primeira metade. Diversa iconografia, como cartazes da época, retratos, fac-símiles de documentos de vária proveniência, etc., serve de apoio ao texto. Brandão põe o acento tónico nos factos, bem documentados, mas não ignora a ‘história da porteira’.

Se quer conhecer aquele tipo de detalhes da vida de D. Carlos que as Histórias canónicas omitem, tem de ler estas memórias. E quem diz o rei diz todos os políticos que deixaram marca no início do século XX português. Está lá tudo. Só assim se percebe o estado a que chegámos. Indispensável. Inclui, naturalmente, índice remissivo.