sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

CAIXA

Paulo Macedo, que estava na calha para vice-governador do Banco de Portugal, aceitou ser o próximo CEO da Caixa Geral de Depósitos. Apesar dos salários “milionários”, que se vão manter, o BE e a comissão de trabalhadores da Caixa aplaudem a escolha de Costa. Rui Vilar fica como Chairman. O PCP aos costumes disse nada.

Os nomes da nova administração, da qual fará parte Esmeralda Dourado, seguem hoje para Frankfurt, ou seja, para o BCE. Lembrar que Esmeralda Dourado foi convidada para CEO da Caixa e recusou, levando à escolha do António Domingues.

Macedo foi administrador executivo e director-geral do Millennium BCP, director-geral dos Impostos (auferindo 23 mil euros mensais, em vez dos cinco mil da tabela da Função Pública) entre 2002 e 2007, fundador da seguradora Médis, ministro da Saúde (2011-15), sendo neste momento administrador da Ocidental Vida.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

ISABELA FIGUEIREDO


Por amanhã ser feriado, a Sábado saiu hoje. Nesta edição escrevo sobre A Gorda, de Isabela Figueiredo (n. 1963). Não é novidade mas convém repetir: a autora mudou o paradigma da literatura pós-colonial em língua portuguesa. Dito de outro modo, pôs um ponto final nos relatos delicodoces da borrasca imperial. Fez isso ao publicar o corrosivo Caderno de Memórias Coloniais, obra estudada em várias universidades, sobretudo anglo-americanas, e não amacia o tom no romance A Gorda, acabado de chegar às livrarias. Como Isabela não tem medo das palavras, nem escreve para agradar aos lobbies dominantes, o resultado desconcerta os incautos. Em Portugal há temas que qualquer aspirante a escritor interiorizou como interditos. O resultado é uma ficção dissociada da realidade. Os mais inteligentes (estou a falar da geração sub-50) deslocam o epicentro das narrativas para fora de fronteiras, e os outros, com raras excepções, debitam prosas pífias sobre vacuidades. Isabela faz tudo ao contrário. Chama as coisas pelos nomes, ignora os moldes que sobraram do nouveau roman, exorciza o beatério pequeno-burguês e fornica a céu aberto: «Montada sobre ele […] não pertenço a lugar algum, sexo e cérebro são uma esfera de luz-prata na qual nos suspendemos por segundos, não mais, cegos, só dor luminosa no lugar do nada…» Nenhum resquício de auto-complacência: internato da Lourinhã, formação escolar, clivagens sociais, gastrectomia como móbil, impecilhos da meia-idade, fronda dos professores durante o socratismo, Diktat alemão, o filho que não houve, doença e morte do pai e da mãe. Nos interstícios, percalços de um amor proibido. Mesmo quando nos fala de psichés de umbila ou de botecos da Arrentela, Isabela não faz outra coisa senão desmontar os clichês do realismo indígena. Tudo visto da outra margem. A história de Maria Luísa, a tal que deveio Gorda, expatriada de Moçambique aos 12 anos de idade, crescendo e fazendo-se mulher até ao regresso da família dez anos mais tarde. O fluxo de consciência ou, se preferirem, o monólogo interior, isenta-se de qualquer espécie de edulcorante: «A triagem remeteu-me para a psicanalista do Campo de Santana, na qual passaria os cinco anos seguintes a matar o papá.» Desenganem-se aqueles que supõem A Gorda uma obra sobre as sequelas da descolonização. Não é. O livro inclui a trilha sonora adequada. Da lista proposta recomendaria One, dos U2. Cinco estrelas. Publicou a Caminho.

Escrevo ainda sobre Paris França, de Gertrude Stein (1874-1946). A minha geração ainda se lembra dela, porque ela foi uma percursora do que mais tarde se chamaria literatura gay. Em 1903, Gertrude publicou Q.E.D., o primeiro livro em que o termo gay foi utilizado no sentido actual. Mesmo em 1933, quando saiu The Autobiography of Alice B. Toklas (as memórias de Gertrude por intermédio da voz de Alice, sua companheira de toda a vida), ainda era pouco comum. Tendo vivido parte da infância em Paris, Gertrude regressou aos Estados Unidos para fazer estudos universitários (medicina, psicologia e filosofia), radicando-se em Paris aos 26 anos. Não admira que a obra suscite curiosidade. Afinal, trata-se do livro em que Gertrude discorre sobre a cidade onde viveu até morrer. Pela sua casa passaram todos os Modernistas, bem como toda a gente que foi importante na primeira metade do século XX. Picasso, Hemingway e Pound eram habitués. Mas Paris França não se ocupa do salão da Rue de Fleurus. É uma memorabilia dos primeiros anos, cheia de aforismos: «a França podia ser civilizada sem pensar no progresso». Os puritanos vão execrar o lugar de destaque dado à gastronomia. Quatro estrelas. Publicou a Relógio d’Água.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

OE 2017 APROVADO

O OE 2017 foi hoje aprovado em votação final global. Votaram a favor o PS, o BE, o PCP, o PEV e o PAN. O PAF (PSD+CDS) votou contra. Igualmente aprovadas, com a mesma votação, as Grandes Opções do Plano. E vamos no segundo Orçamento de Estado da maioria de Esquerda.

TRAGÉDIA

A queda do avião da LAMIA que transportava para Medellín a equipa de futebol do Chapecoense, provocou 76 mortos. Sobreviveram cinco passageiros: três jogadores (Alan, Danilo e Jackson), um dos 21 jornalistas que acompanhavam a equipa, e uma hospedeira de bordo. A equipa brasileira ia disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, que se realiza na Colômbia.

TERROR


É muito estranho o silêncio dos media nacionais (aparentemente só o Observador se ocupou do caso) relativamente ao ataque de ontem na Universidade Estatal do Ohio, situada em Columbus. Até porque o quadro docente inclui portugueses. Tudo começou às 10 da manhã locais, quando um rapaz somali de 18 anos atropelou aleatoriamente vários estudantes do campus, ferindo outros com uma faca de talho. Por junto parece haver onze vítimas. A polícia abateu o atacante no local. A Ohio State University foi fundada em 1870. 

Clique na imagem.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CAIXA DOIS

A ver se a gente se entende. As declarações de rendimento & património dos detentores de cargos políticos têm, por Lei, que ser entregues no Tribunal Constitucional. Sublinhar: cargos políticos. Um bom princípio.

A partir daí, o TC, após análise, e em caso de irregularidade ou omissão, devia alertar os interessados. Não havendo resposta, o TC teria por obrigação accionar os mecanismos adequados num prazo razoável (digamos, um mês). Não imagino que mecanismos possam ser esses.

Isto dito, em circunstância nenhuma os media teriam acesso às referidas declarações. Quem diz os media diz qualquer tipo de coscuvilheiro. Naturalmente que, em casos de natureza judicial, o Ministério Público poderia, mediante autorização prévia de um juiz, ter acesso a elas. Para o interesse público é irrelevante saber se A ou B têm veleiros, mansões ou carros de alta cilindrada.

CAIXA UM

António Domingues demitiu-se ontem de CEO e Chairman da Caixa Geral de Depósitos. A decisão tem efeitos a 31 de Dezembro. Devia tê-lo feito no dia em que começou o folhetim entrega-não-entrega declaração de rendimentos & património ao Tribunal Constitucional. Além de Domingues, também bateram com a porta Emídio José Bebiano Moura da Costa Pinheiro, Henrique Cabral de Noronha e Menezes, Paulo Jorge Gonçalves Pereira Rodrigues da Silva (administradores executivos), Pedro Norton de Matos, Angel Corcóstegui Guraya e Herbert Walter (não-executivos). Ainda sobram quatro, um deles Rui Vilar.