domingo, 7 de agosto de 2016

BERLIM, PARTE DOIS


No texto anterior faço um tour d’horizon objectivo, com raras apreciações de índole subjectiva. Hoje tentarei fazer diferente. Cinco dias não chegaram para conhecer Charlotenburg, Hansaviertel, Prenzalauer Berg e Wannsee. O início de Agosto é uma época sem ópera e concertos clássicos. A Deutsche Oper, uma das três da cidade, abre a temporada no próximo dia 28. Nada a fazer. O clima não é especialmente simpático: calor (26-28 graus, com ligeira descida a partir das dez da noite) e chuva intermitente. As obras entopem tudo, da Unter den Linden a Schloßplatz, passando pela St Hedwigs Kathedrale, bem como outras áreas menos nobres. Em Bebelplatz, defronte do Hotel de Rome, vimos um grupo de meia centena de rapazes e raparigas deitados no chão, em aparente estado de meditação. Eram 11 da manhã. Estariam a reflectir sobre o auto-de-fé nazi de Maio de 1933, realizado ali mesmo?

A ilha dos museus é um estaleiro. O mesmo se diga do troço que vai da Universidade Humboldt ao local onde existiu o Palast der Republik, o parlamento da antiga RDA. Após um debate público de cerca de cinco anos, o edifício foi demolido em 2006. No seu lugar está a ser construído uma espécie de CCB, com inauguração prevista para 2019, que fará contraste violento com a esplêndida Berliner Dom, a catedral barroca do outro lado da avenida.

Como em qualquer grande cidade, andar de metro é muito prático, mas, neste caso, o idioma dificulta a vida a quem o desconhece. O táxi é uma alternativa cara mas eficiente. Exemplo: da Porta de Brandemburgo ao KaDaWe são 16 euros às quatro da tarde. Por falar em táxis: do Aeroporto de Schoenefeld à Porta de Brandemburgo, onde fica o Adlon, o nosso hotel, foram 50 euros à chegada e 40 à partida (outro trajecto), sem gorjeta. Schoenefeld é uma viagem ao passado, onde a cada metro tropeçamos nos fantasmas da antiga RDA. Não deixa por isso de ser eficiente.

As comparações são inevitáveis. Berlim é uma cidade monumental, mas é uma monumentalidade diferente de Paris ou Madrid. É uma grande cidade, mas num sentido diferente ao de Londres ou Nova Iorque. O turismo não é tão opressivo como em nenhuma destas cidades, ficando a milhas da esquizofrenia de Roma ou Veneza. A maior surpresa foi a pujança do comércio, em todas as gamas de preços. Sinal inequívoco de civilidade: as dezenas de vitrines nos passeios da Kurfürstendamm (a Kudamm), que terá qualquer coisa como quilómetro e meio, permanecem com o recheio ao longo da noite. E não estamos a falar de souvenirs para turista pobre. Vitrines Rolex, Ferragamo, etc., iluminadas às 11 da noite, seriam um convite ao assalto noutro tipo de civilização.

Checkpoint Charlie não tem glamour mas tem memória. A minha geração sente um arrepio quando ali chega, mas suspeito que aos mais novos (os que nasceram a partir de 1990) o local seja indiferente.

Pedaços do muro podem ser vistos em vários locais. Na Potsdamerplatz existem cinco ou seis blocos. E, na Friedrichstraße, o Westin Grand faz questão de ter um a decorar a esplanada do bar.

Em traços gerais foi assim que vi Berlim. Clique na imagem.