quarta-feira, 9 de setembro de 2015

CONVINHA REEDITAR, 6


Repito o que escrevi um dia: a obra de Luiza Neto Jorge (1939-1989) tem a exactidão de um relâmpago. A sua obra poética completa foi publicada em 1993 e, salvo uma antologia de 1997, não me recordo que tenha voltado aos prelos. Em 2006 a revista Relâmpago dedicou-lhe o seu n.º 18, mas hoje quase ninguém fala de Luiza, que morreu aos 49 anos, viveu emigrada em Paris (1962-1970), traduziu Sade, Verlaine, Yourcenar, Genet, Brantôme, Gombrowicz, Bataille, Nerval, Claudel, Artaud, Ionesco, Stendhal, Diderot, Éluard, Goethe e muitos outros, escreveu argumentos e diálogos para cinema, tudo à margem das paróquias catedráticas. Luiza não patrocinou salões literários nem frequentou as capelas Bon Chic, Bon Genre. Em vez disso, deixou uma obra parcimoniosa e um punhado de dispersos, que Fernando Cabral Martins organizou com método. Pela tradução de Morte a Crédito, de Céline, recebeu o prémio do PEN Clube. Se um dia alguém se lembrar de seleccionar os melhores poemas da língua portuguesa, O Poema Ensina a Cair figurará na primeira meia dúzia.