quinta-feira, 9 de julho de 2015

REINALDO MORAES

 
Hoje na Sábado escrevo sobre O Cheirinho do Amor, do brasileiro Reinaldo Moraes (n. 1950), livro que colige trinta e seis crónicas. Com excepção de O desejo em dois tempos, foram publicadas entre 2011 e 2014 numa revista para homens. Não se trata de um dicionário de ideias feitas sobre o macho indígena, embora ande lá perto. Num texto que serve de fio condutor da obra, De quatro na Bundolândia, Moraes fixa a obsessão «anal e sodomita» dos patrícios: «o fato é que não dá pra subestimar o número de homens brasileiros, héteros ou gays, que vivem com o cu na cabeça.» Fazendo vénia aos clássicos, termina citando Oswald de Andrade: «Enrabei dona Lalá.» Faz todo o sentido, porque Moraes, com o ser um autor culto, tem uma escrita vigiada, com frequentes envios de natureza erudita. Em nenhuma circunstância o sexo, tema central do livro, serve de álibi para o uso frouxo da linguagem. Muito pelo contrário. O autor calibra bem todas as harmónicas discursivas. Melhor ainda: permite ao leitor familiarizar-se com um largo inventário de sinónimos genitais: rabicó, brioco, toba, fiofó, a lista não tem fim. A ironia tem momentos deveras conseguidos, como na crónica dedicada ao défice de natalidade na Dinamarca. No domínio do nonsense, a sonda vaginal de que trata a crónica Sorria: seu pênis está sendo filmado, revela uma imaginação delirante: «Coisa pra corno milionário.» Sobre o cheirinho do amor, é melhor ler o livro. Quatro estrelas.