quinta-feira, 18 de junho de 2015

OLIVIER ROLIN


Hoje na Sábado escrevo sobre O Meteorologista, de Oliver Rolin (n. 1947), obra que não perde interesse apesar de ser muito extensa a literatura sobre os anos do terror estalinista. O que mais surpreende neste volume é um caderno inserido hors-texte, com imagens de plantas e animais, O álbum de Eleonora. A sua função não é decorativa. São os desenhos que o protagonista, Alexei Feodossievitch Vangengheim, o meteorologista, enviava a sua filha enquanto permaneceu preso num campo de concentração. É a vida desse homem, detido pelo NKVD em 1934 por, alegadamente, ser «hostil ao Partido», que Rolin descreve com desembaraço, intercalando ficção e realidade: «Há o colapso moral provocado pelo facto de se ser de repente tratado como um inimigo do povo...» Conhecedor da cultura russa e da História soviética, o autor traça o percurso de um homem comum apanhado no vórtice das purgas anti-burguesas, um dos muitos «inocentes executados no fundo de uma vala» (mais de setecentos mil em menos de ano e meio) em nome do arbítrio de Nikolai Iejov, o chefe da polícia política. O grande mérito de Rolin é a sua capacidade em relatar o indizível com a secura da exactidão. Em nota final, o autor credita as fontes em que se apoiou para reconstruir a vida de Alexei. Três estrelas e meia.